A sábia humildade de Chico

Certa vez, Chico Xavier nos disse: "Quando recebo um jornal espírita, primeiro procuro ler a opinião dos meus desafetos; depois é que leio a opinião dos amigos." E acrescentou: "Primeiro, o diagnóstico que fazem para as minhas enfermidades; depois o remédio que me oferecem para elas..."
Na minha ingenuidade, perguntei:
-Chico, mas será possível que você tenha opositores na Doutrina?
- São os mais ferozes, meu filho - respondeu- e os mais inteligentes. Os adversários de fora logo nos esquecem, mas os que temos dentro de casa...
- Você nunca respondeu a eles?
- Seria dispersar a atenção que me merece o trabalho dos Bons Espíritos. Emmanuel me ensinou que os que nos criticam de forma impiedosa e sistemática são admiradores do nosso esforço. O problema é que não conseguem renunciar a si mesmos.
- Mas você deve ficar chateado, não é? - insisti
- Se eu dissesse que não, estaria mentindo. No fundo, todos aspiramos à unanimidade de opiniões a nosso respeito - coisa que nem Jesus Cristo conseguiu ainda... Que vamos fazer, se somos assim?...
- E você nunca desanimou?
- A ideia de que não passo de um cisco me preservou de muitos delírios... Jamais acreditei ser o que dizem que sou. Chico Xavier não passa de um sapo carregando uma vela acesa nas costas; os pingos de vela derretida me fazem saltar e cumprir com o meu dever.
- Mas muitos desistem.
- Desistem, não por causa das críticas que recebem, mas do amor próprio. O médium que ama a Doutrina mais do que a si mesmo, se não tem ânimo pessoal para continuar, prossegue pela Doutrina, que sempre devemos colocar acima de todo e qualquer interesse egoístico.
- Seria bom - comentei - se tudo fosse diferente.
- Seria meu filho - concluiu Chico a preciosa lição - mas nós também não estamos preparados para isto. Se o médium escutasse apenas aplausos a sua volta, logo ele ira perguntar pela sua coroa de rei. Ora, se a única cora que tocou para Jesus Cristo foi a de espinhos, com que tipo de coroa haveremos de querer ser coroados, se só temos lama na cabeça e pedra no coração?!

Carlos A. Baccelli