A tríplice função social do Centro Espírita - Parte I

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Para que um saber se insira na sociedade é necessário a existência  de estruturas formais  que assegurem a sua difusão, a criação de uma consciência coletiva de profitentes e o desenvolvimento de práticas que validem e utilizem tal conhecimento de modo a fazê-lo mais aceito. Por isto a Cosmovisão espírita, construída a partir da revelação espiritual codificada por Allan Kardec , presentificando-se no mundo, vivencia os mesmos processos de outras mundividências para se instaurar nas entranhas da sociedade.

Em que pese suas profundas diferenças de organização em relação a outros saberes, a começar pela inexistência de hierarquia bem como  o contato permanente com participantes interexistenciais  – espíritos desencarnados –  o Espiritismo constituiu uma célula máter para desenvolver suas atividades: o centro espírita  hoje considerado sua unidade fundamental.

Nele realizamos  os mais variados trabalhos em consonância com as demandas evolutivas  das pessoas que o buscam  organizando suas atividades sob a ótica dos princípios espíritas que nos oferece os parâmetros  necessários para discernirmos o que convém efetivar, seu modo de operar e como avaliar nossas ações.

Como os centros espíritas surgem ao sabor das decisões pessoais e de pequenos grupos, algumas vezes sob orientação ostensiva de entidades espirituais, é compreensível que apresentem variedade de formas de organização, de ênfase em algumas atividades, e até mesmo de foco em um ou outro princípio norteador da Doutrina Espírita.

Considerando os motivos identificados nas pessoas que buscam tais instituições e seus objetivos institucionais decorrentes da cosmovisão espírita, organizamos suas atividades prevalentes em três núcleos  que correspondem a aspectos da sua função social: centro de saúde e promoção da pessoa, educandário e templo.

Centro de saúde

Considerando que estarmos encarnados é reflexo da nossa situação espiritual cujo movimento evolutivo é impulsionado pela dor, todos em algum momento demandaremos hospitalidade. E pelo fato do pensamento espírita nos mostrar numa maior inteireza como seres espirituais manifestando-se por instrumentos intermediários impermanentes  ou passíveis de transformação, nossas vestes transitórias chamadas de corpo somático e perispírito, é necessário que dediquemos parte da nossa atenção a atividades referentes a melhoria da qualidade de vida no sentido multidimensional biopsicossocioespiritual incluindo inclusive os sofredores incorpóreos.
Assim tem relevância tudo que fizermos em termos de saúde e promoção humana, justificável por vários princípios espíritas a começar pela solidariedade entre irmãos já que somos filhos da mesma criação divina, da necessidade evolutiva de expressarmos amor  como alavanca do nosso progresso e da compreensão do mandamento de Jesus, considerado guia e modelo por excelência pelo Espiritismo, que recomendava:” curai os enfermos”.

Como a cosmovisão espírita não despreza as contribuições da visão materialista do mundo, incluindo-as e transcendendo-as é natural que algumas de nossa atividades  se assemelhem na forma  àquelas existentes na sociedade. Em nome da caridade acolhemos as pessoas que precisam de cuidados biológicos, de atendimentos psicológicos e  de ações sociais e até nos propomos a seguir normas jurídicas vigentes para minimizarmos a dor do mundo . Ainda que não elejamos o corpo como foco principal de nosso existir devemos vê-lo como o “templo onde habita o espírito, veículo de manifestação do ser imortal, síntese evolutiva do espírito no domínio das formas materiais.

Entretanto mesmo nestas instâncias devemos fecundar nossas ações com a perspectiva de que lidamos com um ser imortal em transitória condição de vida  cujas circunstâncias são também momentos significativos para dinamizarmos  o processo evolutivo.  E porque entendemos que a vida biopsicossocial é uma conseqüência da dimensão espiritual evolutiva de cada ser mesmos nos procedimentos  triviais  de elevação da  qualidade de vida além de aliviarmos os efeitos devemos remontar às causas que são em última instância derivadas do espírito.

Na ação espírita solidária também diferimos das práticas materialistas por termos conhecimento sobre fluidos, energias psíquicas, influências espirituais obsessivas, processos de adoecimento palingenésico, ausência de Deus, como fatores geradores de sofrimento. Por outro lado temos ao nosso dispor modalidades de trabalho não disponíveis em um centro de saúde comum como a água magnetizada, o passe, a consulta espiritual, as práticas desobsessivas, o aconselhamento a partir da trajetória evolutiva,  os trabalhos de esclarecimento grupal sobre o adoecer e o curar-se,  para citar algumas das práticas mais corriqueiras já consagradas pelo uso no movimento espírita.

Autor: André Luiz Peixinho - Presidente da Feeb
Fonte: Feeb.org.br